segunda-feira, 25 de julho de 2011

Creso Peixoto comenta a situação da mobilidade urbana no ABC



O professor Creso Peixoto, da FEI, em São Bernardo do Campo (SP), fala sobre os problemas crônicos de mobilidade da Região Metropolitana de São Paulo e as soluções apontadas pelo acadêmico:

Dentre todas as cidades do ABC, qual é a que mais se destaca em desorganização de mobilidade?

Creso Peixoto: Todas as cidades do ABC têm uma deficiência do ponto de vista metropolitano. A cidade de São Bernardo do Campo, no passado, foi chamada de “jogo da velha”, por ter algumas rodovias que cortam o município de ponta a ponta e que se cruzam em alguns momentos. Junto com o Rodoanel, esse aspecto auxilia em um tráfego um pouco melhor para São Bernardo. Já São Caetano do Sul é uma cidade que não tem mais zonal rural, e tem um índice altíssimo de motorização, com quase um veículo por habitante. Portanto, São Caetano, apesar de ser muito bem desenvolvida em vários aspectos, é uma cidade que tem prenúncios de que terá ainda mais dificuldade de trânsito.

O VLT, que vem sendo uma das promessas dos próximos anos para a região, é a solução?

Creso Peixoto: Ajudaria bastante. Integraria outros sistemas de transporte, inclusive o metrô. Mas ainda não é o suficiente.

Do que mais a região do ABC carece?

Creso Peixoto: O ABC, e também podemos incluir o município de Diadema, precisa de soluções de transporte integrado, ou seja, metrô, trólebus, ônibus, entre outros tipos. Esses municípios devem fazer um trabalho de curto a médio prazo de investimento em transporte coletivo, alternativo e redução do espaço do carro. Não há solução para carros. No longo prazo, é vital que esses municípios tenham linhas educacionais, mesmo que até conflitem com o panorama nacional. Do que adianta uma escola se o aluno não é obrigado a estudar?

Então o problema é tanto cultural quanto estrutural?

Creso Peixoto: Sim, por exemplo, quando se utilizam transportes alternativos, como a bicicleta, torna-se uma parte da solução. No Brasil mesmo já há algumas cidades adotando o veículo com mais afinco. Mas para isso dar certo, é necessário um trabalho educacional. É preciso que o cidadão que conduz um carro respeite o ciclista ou o pedestre, assim como o motociclista, que deve respeitar a ciclovia. Há cidades do interior em que o motociclista trafega pela ciclovia e nada é feito a respeito. Portanto, é necessário sim respeitar as regras para que dê certo. Se o cidadão não entender que certas medidas são tomadas para seu próprio bem estar, então não adianta nenhum esforço, seja a médio ou longo prazo. Metrô é caro, claro que sim, mas o que a gente tem que fazer é parar de vez incentivar as pessoas a comprarem carro e moto.

Além do já citado VLT, há outros projetos de transporte coletivo para o ABC em tramitação?

Creso Peixoto: Não dá para saber se em curto prazo haverá algo, mas existe um forte interesse em torno do PITU (Plano Integrado de Transportes Urbanos), que é válido para a região metropolitana de São Paulo. Nesse projeto muitas ideias são discutidas. Por exemplo, há mais de dez anos se discute aonde nós vamos fazer o próximo aeroporto, ou para onde levaremos nossas linhas de metrô. Aliás, há apenas 70 quilômetros de metrô para São Paulo, que por sinal já deveria ter chegado em municípios como Santo André ou São Bernardo. É muito pouco. Seria necessária uma malha de 200 quilômetros para se ter uma linha plena.

O senhor acredita que se um dia São Paulo parar, as áreas mais densas do ABC poderão sofrer o impacto em igual proporção?

Creso Peixoto: Não acredito em um travamento geral na região metropolitana, mas as velocidades estão reduzindo a cada dia. Se você vai para São Paulo, em alguns lugares você registra a velocidade de seu carro igual à de uma bicicleta. Então, o que é mais vantajoso? É uma questão de tempo para adotarmos meios alternativos.




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