sexta-feira, 19 de março de 2010

O perigo em duas rodas

SÃO PAULO - Não existe categoria que desperte no conjunto da população tanta animosidade quanto a dos motoboys. Sim, é uma animosidade de mão dupla. O inferno, para eles, somos nós -tiozinhos e dondocas nos carrões, taxistas e ônibus, cada qual disputando a primazia sobre o asfalto escasso.
Verdade seja dita, também é difícil encontrar entre os paulistanos quem nunca tenha usado a agilidade desses ninjas ensandecidos para resolver um problema "urgente". Mas não importa. Inconsequentes, agressivos, ameaçadores - essa é a imagem que temos dos motoboys.
Ela vem frequentemente associada à fantasia de que sob cada capacete se esconde um marginal. Nos semáforos ou entre as faixas, parados ou voando, eles suscitam sentimentos que vão do medo à hostilidade aberta. Os motoboys exprimem como ninguém um trânsito assustado e próximo do colapso, do qual são causa e consequência.
Nenhuma grande cidade do mundo resolveu seu trânsito incentivado o uso de motos. É um veículo perigoso, individualista ao extremo, além de barulhento e poluente. E há motos demais em São Paulo. Em 2000, eram 348 mil. Hoje, já são 824 mil, mais do que o dobro.
Segundo o repórter Alencar Izidoro, estudioso do assunto, os motoboys representam apenas 20% desse total - são entre 150 mil e 200 mil, embora mais visíveis porque circulam nervosos o dia todo. Em 2009, morreram na capital 428 motoqueiros, quase o dobro dos mortos em acidentes de carro (222).
A prefeitura anunciou que em breve ficará proibida a circulação de motos em boa parte da extensão da avenida 23 de Maio e na pista expressa da marginal Tietê. Será inaugurado, em contrapartida, um corredor exclusivo para motos na rua Vergueiro. Na avenida Sumaré, onde existe a motofaixa desde 2006, 83% dos acidentes entre 2007 e 2009 envolveram motos.
As medidas "restritivas" de Kassab contarão com a simpatia da população. Mas a experiência indica que continuaremos a enxugar gelo.

Fernando de Barros e Silva. Editor do caderno Brasil da Folha de S.Paulo

quinta-feira, 18 de março de 2010

Não envie torpedos no trânsito

Prática é mais perigosa do que falar ao celular, alertam especialistas em transporte

Outros países já pesquisam fenômeno e elaboram leis específicas contra SMS ao volante; no Brasil, discussão sobre o assunto engatinha

por Leticia de Castro

Após levar duas multas por falar ao celular enquanto dirigia, o ator Bruno Perillo mudou a tática para otimizar o tempo no trânsito. Trocou as ligações pela comunicação via torpedos.
No fim do ano passado, avisou aos colegas por SMS, enquanto segurava o volante com apenas uma das mãos, que chegaria atrasado ao ensaio da peça da qual estava participando.
''Sei que é errado. Mas, em emergências, já recorri ao torpedo enquanto dirigia. É mais fácil do que ligar'', afirma o ator.
Na era do smartphone, o trânsito virou quase uma extensão do escritório. A facilidade de acesso à internet e as mensagens de texto tornaram faróis fechados e congestionamentos num pretexto para resolver pendências. Especialistas alertam, porém, que enviar torpedos ao volante é mais perigoso do que falar ao celular. O risco da prática é maior, inclusive, do que dirigir embriagado.
Embora não haja estatísticas sobre o número de pessoas que enviam mensagens no trânsito, a popularização desse hábito preocupa especialistas da área. ''É mais perigoso que falar ao telefone'', diz Fabio Racy, diretor de relações institucionais da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).
De acordo com ele, além da distração provocada pela mensagem, a principal ameaça que o SMS representa à segurança no trânsito decorre da necessidade de o condutor desviar o olhar da rua para o aparelho. ''Sem a visão, as chances de um acidente são muito maiores.''
Nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália, o assunto já é alvo de pesquisas. Levantamento do instituto Pew Internet and American Life Project, com adolescentes americanos, detectou que 32% dos entrevistados de 16 e 17 anos já tinham enviado mensagens de celular enquanto dirigiam -lá é possível ter habilitação aos 16 anos.
A disseminação da prática fez soar o alarme no Ministério de Transporte dos EUA. Segundo o órgão, 6.000 morreram em acidentes de carro envolvendo motoristas distraídos em 2008.
Neste ano, o governo americano baixou norma vetando especificamente o envio de torpedos por motoristas de veículos comerciais. Nem todos os Estados proíbem o uso do celular ao volante. Mas em 20 deles há lei específica contra torpedos.
No Brasil, o celular é proibido ao volante em todo o país. O debate sobre torpedos, porém, ainda é incipiente. ''Deveria haver discussão mais ampla'', diz Orlando Lima, do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes da Unicamp.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo diz que o número de multas por uso do celular ao volante aumentou 22% de 2008 para 2009. Não discrimina, porém, quantas envolveram torpedos.
Para Sérgio Ejzenberg, mestre em engenharia de transporte pela Escola Politécnica da USP e perito em acidente de trânsito, ainda que fossem criadas leis específicas para SMS, a fiscalização seria muito difícil. ''A melhor forma de prevenir é a conscientização'', afirma ele.

Folha de São Paulo

quarta-feira, 17 de março de 2010

Abramcet recorre ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas.


A Associação Brasileira de Monitoramento e Controle Eletrônico de Trânsito (Abramcet) protocolou nesta terça-feira (16) documentos no Ministério Público Estadual e no Tribunal de Contas do Município de São Paulo para questionar três contratos para operação de radares fixos, móveis e de lombadas eletrônicas.



As concorrências foram realizadas em 2005 e os contratos emergencias que as substituem ainda estão em vigor.



Ao Ministério Público a Abramcet apresentou uma representação em que pede a investigação dos contratos e abertura de processo por improbidade administrativa contra os funcionários da Prefeitura de São Paulo envolvidos. Ao Tribunal de Contas do Município a associação vai sugerir a suspensão e declaração de nulidade dos contratos. A Secretaria Municipal de Transportes nega irregularidades nas três concorrências.



Representante da Abramcet, a advogada Fernanda Barretto Miranda Daólio afirma não se recordar da última vez em que a associação de empresas de serviços entrou em conjunto na Justiça contra a Prefeitura de São Paulo. Ela não acredita que a eventual suspensão dos contratos possa causar problemas para o trânsito de São Paulo porque considera que o município acabará fazendo contratações emergencias para suprir o serviço até a solução dos processos.

A Abramcet questiona a concorrência 1/2005 porque, segundo a advogada da entidade, a Prefeitura de São Paulo, diante da impugnação da primeira colocada, contratou esta mesma empresa em caráter emergencial para operar radares. Segundo a SMT, seria impossível contratar por emergência uma empresa que já não estivesse com os equipamentos instalados.


A Abramcet também questiona a concorrência 2/2005 porque, segundo a advogada da entidade, a Prefeitura de São Paulo, diante de um impasse jurídico com a vencedora da licitação, celebrou novo contrato emergencial com a empresa que prestava serviços para gerenciamento de lombadas eletrônicas. A SMT afirma que, para evitar a interrupção dos serviços, manteve o contrato com a empresa que já operava em caráter emergencial.

O terceiro contrato questionado é o 3/2005 (para a SMT, trata-se do contrato 3/2006), para gerenciamento de radares móveis. De acordo com a advogada, o edital exigia que a empresa vencedora fornecesse funcionários para fiscalização dos radares. Após vencer a licitação, a empresa executora colocou os radares móveis em molduras de concreto e dispensou os funcionários, o que tornou a execução do contrato mais barata. "Tiveram redução do custo operacional e queremos saber se essa redução teve impacto nos preços pagos pela prefeitura", disse a advogada.



Segundo a SMT, as inovações trazidas pela empresa contratada, além de não ferirem o edital, facilitam sua gestão. A SMT afirma que não permitiu alteração da execução do contrato, que está sendo cumprido integralmente.